sexta-feira, 10 de outubro de 2008



Um belo artigo extraído da Revista "Mundo e Missão" sobrre Charles de Foucauld..Boa leitura e muita inspiração nos caminhos de "Nazaré"....


Entre Deus e os pobres
por Costanzo Donegana


O dia 1 de dezembro de 1916, Charles de Foucauld é morto por um tiro de carabina nas têmporas por um jovem tuaregue. Havia escrito alguns anos antes: "Pensa que deves morrer mártir, despojado de tudo, estendido no chão, nu, irreconhecível, coberto de sangue e de feridas, morto com violência e dolorosamente". Foram seus "amigos" tuaregues que o mataram: por eles, Foucauld havia dado toda sua vida, tornando-se seu servidor.


Esse altivo povo nômade do Saara tinha-se tornado o "dono" da vida do irmão Charles: na sua pequena casa de um só quarto, eles entravam e saíam com a máxima liberdade e indiscrição. Era o amigo que podiam ir visitar a qualquer hora do dia e da noite. Haviam notado que, quando chamavam o padre, ele ia logo, sem fazê-los esperar. Ele tinha-se tornado realmente um homem "comido". Para ele não era só questão de praticar a hospitalidade, de prestar serviço ou de tratar um doente, expressões externas e, todavia, bem reais de seu amor: o dom de si mesmo, que ele fazia aos seus tuaregues, ia mais além.
Procurava penetrar nos segredos de sua língua, de suas tradições, dos costumes que são como o reflexo da alma de um povo. Passava a maior parte de seu tempo compondo uma gramática e um dicionário tamascec, recolhendo provérbios e poesias populares, não poupando nem tempo nem conversas. Até hoje, os habitantes do Hoggar (sul da Argélia) lembram que o "marabuto branco" falava sua língua melhor do que eles. Irmão Charles, de vez em quando, era oprimido por esta obra lingüística, sobretudo porque lhe impedia de dedicar-se ao trabalho manual, que ele considerava como a própria forma de sua vida de pobreza; todavia não duvidava que era seu primeiro dever. Para ele, era a maneira melhor para penetrar a alma dos indígenas, além de preparar os instrumentos de trabalho para os futuros missionários.


Gritar o Evangelho com a vida
A atração do deserto manifestou-se espontaneamente em Charles de Foucauld já antes da conversão, na medida em que sua alma se aproximava de Deus. Esta atração desenvolveu-se depois, seja pelo desejo de imitar Jesus, como para responder a uma necessidade de viver só com Deus, que se tornava nele sempre mais forte. Porém, não sentiu o chamado a retirar-se definitivamente no deserto, longe das relações humanas: esta opção não era motivada por um desejo de fugir dos homens.
Capela do eremitério de Foucauld
Todas as vezes que ele penetrava mais na imensidade do Saara, era para tomar contato com populações abandonadas. Umas vezes, o Irmão Charles procurava o contato com os homens, outras entrava pelo deserto adentro como em um lugar de encontro com seu Deus na contemplação. "Meu Senhor Jesus, como será pobre quem, amando-vos de todo coração, não poderá tolerar ser mais rico que seu Bem-amado! [...] Meu Senhor Jesus, como será pobre quem aliviará todas as misérias a seu alcance, pensando que tudo que se faz a um desses pequenos é feito a vós, e tudo que não se faz é negado a vós!".
Um dos ideais mais marcantes da espiritualidade de Charles de Foucauld é a pobreza, como elemento fundamental no seguimento de Jesus e como identificação, por amor, com os pobres: "ser da classe dos pobres, tratados e considerados como tais pelo mundo" (R. Voillaume). No deserto, ele encontrou o lugar do despojamento físico e espiritual, onde Deus o chamava à maior intimidade com ele e a experimentar a falta de tudo como maneira de compartilhar as situações de pobreza, insegurança, humilhação dos últimos da humanidade.


A pobreza, nesta luz, não era um fim, e sim um meio para sua identificação com seu Bem-amado, o centro e a paixão de todo seu ser: "Continuar em mim a vida de Jesus: pensar seus pensamentos, dizer suas palavras, fazer suas ações [...] que seja ele a viver em mim. Ser a imagem de Nosso Senhor na sua vida escondida: gritar, com minha vida, o Evangelho sobre os telhados. Vem: é preciso que a coragem iguale a vontade [...] É hora de amar a Deus. Procurar a Deus só". (Este texto deve muito a R.VOILLAUME, Au coeur des masses, Paris, Du Cerf 1969.)

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