segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Vitória, 26 de outubro de 2008.
À Coordenação Nacional da Fraternidade Secular Charles de Foucauld
At. Miguel Savietto e demais membros da Coordenação Nacional/SP
Caríssimos irmãos e irmãs,
Em atenção a Circular enviada por essa Coordenação, datada de 8/09/08, informamos que em reunião da Fraternidade (Grupo-Vitória,ES), indicamos o nome de Miguel Savietto, para Coordenador Nacional , vez que tem conduzido esse trabalho com sabedoria e fidelidade, sempre nos animando a vivermos a radicalidade da proposta do Irmão Carlos de Foucauld.
Quanto ao representante para o Encontro Continental, informamos que nenhum integrante do nosso grupo manifestou interesse em participar desse Encontro ,a ser realizado no Chile, em janeiro próximo.
Para ciência dessa Coordenação, informamos que foi escolhida, nesta data, para Coordenar a Fraternidade (Grupo-Vitória, ES), a nossa querida irmã Isabel Barreira, por dois anos, a partir do próximo mês.
Oportunamente, enviaremos a relação de nomes dos integrantes da Fraternidade (Grupo Vitória,ES), com os respectivos endereços, solicitada por essa Coordenação Nacional.
Na espera do Encontro Nacional, despedimo-nos, fraternalmente, continuando à disposição de bem servir os irmãos e irmãs, dessa Coordenação Nacional.
FRATERNIDADE LEIGA CHARLES DE FOUCAULD (GRUPO VITÓRIA/ES)
(Presentes à reunião, nesta data: Augusto César, Dalva Vênancio; Eliete Boni, Isabel Barreira, Lindinalva Marques, Penha Meneguci, Terezinha Barreira, Pe. Waldyr Almeida)
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Durante o dia 24 de agosto, as fraternidades da região de São Paulo, vivenciaram a sua experiência de deserto anual, no Sítio dos Anjos!Padre Leonardo, espiritano, com sua jovialidade e sabedoria facilitou este importante momento de vivência espiritual das nossas fraternidades! O deserto manteve a sua dinâmica de um bom tempo para o silêncio e partilha da experiência vivenciada no deserto..mas também assegurou algum momento para troca de informações das fraternidades, notícias nacionais e de partilha dos risos, do carinho, da escuta, dos alimentos, do cotidiano das nossas vidas....Ir ao deserto nao apenas nos permite um encontro com Deus, mas também com nossos irmãos e irmãs das nossas fraternidades! (Legenda Foto: Membros da Fraternidade de Ribeirão Pires: Miguel, Alaíde, Efigênia e Maria Augusta)
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Segue o relato do Roberto/Gislene sobre a Reunião da Equipe Internacional da Fraternidade Leiga Charles de Foucauld realizada em Spa/Bélgica.........
ENCONTRO DA EQUIPE INTERNACIONAL DA FRATERNIDADE LEIGA CHARLLES DE FOUCAULD
(REALIZADO EM SPA (BELGICA) DE 22 A 30 DE AGOSTO DE 2008)
Roberto e Gislene
Como representantes do Continente Americano, participamos do 1º Encontro da Equipe Internacional, dois anos após a eleição realizada em Arusha, conforme o calendário que naquela ocasião foi estabelecido.
Reunidos em Spa, Bélgica, durante uma semana, Antoinette, Coordenadora da Equipe Internacional, e seu marido Henri, um dos coordenadores europeus ,juntamente com os representantes dos outros continentes, compartilhamos momentos fortes de oração e de aprofundamento da espiritualidade do Irmão Carlos, relatamos um pouco do que se passa em nossas fraternidades, no Brasil e na América, e ouvimos relatos bastante vivos sobre a vida de diversas fraternidades de algumas regiões da Ásia, da Oceania, da África, da Europa e do Mundo Árabe.
Miong-jun, da Coréia, juntamente com o Irmãozinho Pierre, representou a Ásia; o casal Peter e Gertrude, representou a África e o Irmãozinho Michel que seria intérprete, assumiu a representação do Mundo Árabe uma vez que Emad Zakir, do Egito, não obteve o visto para entrar na Bélgica e, dessa forma, não pôde comparecer à reunião. O Padre Jean Pierre Dupont, da Fraternidade Sacerdotal, que vem acompanhando esta Equipe Internacional desde o início, também esteve conosco durante todo o Encontro e, com seu testemunho vivo, ajudou-nos muito na caminhada daqueles dias.
Os coordenadores da Ásia, da África e do Mundo Árabe, a partir de seus relatos, nos deram uma imagem das dificuldades que a maior parte das Fraternidades dos países desses continentes encontra para formar-se e para sobreviver em meio a tantas adversidades sociais, religiosas e econômicas.
Apesar das dificuldades, há razão para muita alegria, pois a Fraternidade floresce por todo o mundo, inclusive na América onde membros das Fraternidades dos Estados Unidos e do Canadá começam, cada vez mais, a responder presente. Quanto ao nosso continente, foi com alegria que todos os participantes receberam a notícia de nosso Encontro Americano, a ser realizado no Chile no próximo mês de janeiro de 2009, entre os dias 06 e 12.
Entendemos que precisamos continuar a orar, muito e cada vez mais, uns pelos outros para que as Fraternidades continuem sua caminhada, em seus diferentes estágios, lá e cá, com base na espiritualidade do Irmão Carlos, sendo “fermento” e gritando o Evangelho com nossas vidas e com nossas ações, mesmo que modestas, em benefício de tantos irmãos. Para tanto, é necessário que estejamos atentos ao que está a nossa volta, a quem está a nossa volta e, sobretudo, aos migrantes e aos imigrantes que, hoje, mais do que nunca, estão por toda parte, em todos os países e continentes.
A Fraternidade européia, muito atenta aos problemas vividos pelos imigrantes em decorrência da globalização e da mundialização, recebeu-nos carinhosamente, proporcionando-nos dias muito ricos de convivência e partilha; ouvindo, apoiando, interrogando e refletindo com cada continente, entre tantas coisas, sobre a necessidade de que as Fraternidades Leigas, em toda parte, tornem-se cada vez mais autônomas no que concerne às questões financeiras, como a criação e a manutenção de nossos “caixas” nacionais e continentais. Da mesma forma foi enfatizada a necessidade do desenvolvimento de atividades e de relacionamentos concretos de solidariedade entre o Norte e o Sul.
Foram, também, bastante discutidas questões relativas ao Boletim Internacional, às relações com o mundo exterior, à necessidade da formação continuada dos membros das fraternidades e da progressão da vida fraterna.
A próxima Assembléia Internacional , em 2012, já começou a ser pensada e deverá tomar impulso com as contribuições de todos os Continentes, a partir do Encontro da Equipe Internacional a ser realizado em 2010, possivelmente na Coréia.
É muito importante registrar que contamos com a preciosa colaboração de nossas irmãs da Fraternidade belga: Joana, Maria e Mariana que assumiram a cozinha durante todo o Encontro e de Nicole que foi nossa tradutora para o Inglês, auxiliando na riquíssima participação de Peter e Gertrude que, de outra forma, poderia ter sido prejudicada.
No dia 30, a Fraternidade da Bélgica veio ao nosso Encontro e pudemos partilhar a Celebração Eucarística e um lanche comunitário antes de voltarmos para o Brasil.
Além das atividades internas, pudemos participar de uma concorrida missa dominical com a comunidade local no Mosteiro Beneditino Saint-Remacle, almoçar em companhia dos monges e, à tarde, visitarmos as minas de carvão de Blegny, hoje felizmente desativadas.
Durante a semana, tivemos ainda a ocasião de visitar, ao anoitecer, o bonito e austero Santuário de Nossa Senhora de Banneux, a Virgem dos Pobres, onde ocorreram as aparições de Maria Santíssima à menina Mariette Beco, em 1933. Nessas aparições, Nossa Senhora pedia-lhe para rezar, rezar, rezar...
Segue a Mensagem Final do Encontro:
Mensagem Final
A Equipe Internacional da Fraternidade Secular Charles de Foucauld, reunida em Spa (Bélgica) de 22 a 30 de agosto de 2008, ouviu o relato dos representantes de cada região e analisou a situação das Fraternidades em cada um dos continentes em que as Fraternidades Leigas estão presentes.
A Equipe Internacional quer, inicialmente, exprimir a sua solidariedade ao representante do mundo árabe, Emad Zakir, o qual, por razões administrativas, não obteve o devido visto e não pôde deixar o Egito para participar da reunião da Equipe Internacional na Bélgica. Nós, os demais integrantes da Equipe Internacional, encaminhamos um documento no qual interpelamos as autoridades belgas a esse respeito.
Nós vivemos momentos fortes de partilha fraterna e eucarística, de oração e de aprofundamento d as intuições de Charles de Foucauld como desbravador e testemunha exemplar da solidariedade Norte-Sul.
Decidimos prosseguir e aprofundar o trabalho nos diferentes continentes, em função das necessidades de comunicação (1) entre nós de modo a favorecer a colegialidade.
A coordenadora da Equipe Internacional, Antoinette Roberti, reconduzida pela Equipe Internacional à mesma função, dedicar-se-á ao bom funcionamento da Equipe, respeitando os compromissos já assumidos pelos continentes em Arusha e reiterados nesta reunião, continuando a assumir a representação da Fraternidade.
Nós encorajamos as Fraternidades a continuarem a dar destaque aos desafios apresentados pela Assembléia de Arusha em 2006. (2)
De modo muito especial, a Equipe Internacional convida as fraternidades a observarem atentamente a situação dos estrangeiros nas suas respectivas sociedades. As Fraternidades deverão procurar partilhar suas análises e reflexões com os coordenadores nacionais e continentais.
Nós encorajamos, igualmente, as diversas formas de parceria entre as Fraternidades do Norte e do Sul, sempre no espírito de eqüidade e de respeito mútuo.
Fraternalmente
A Equipe Internacional Spa, 29/08/08
(1) Reuniões locais, regionais e continentais
Delegação de responsabilidades
Aprofundamento e formação
Caixa nacional e continental
Cooperação com os outros ramos da Família Espiritual.
(2) Os desafios :
- aprofundar em nossas Fraternidades o espírito de escuta e de amizade a fim de que cada um, de onde quer que ele venha, seja reconhecido e contribua para fortalecer a fraternidade
- continuar com toda a lucidez e no respeito mútuo, o diálogo com os muçulmanos, com as outras religiões e com os não-crentes
- intensificar a colaboração com todas as associações que lutam pelo respeito e pelo desenvolvimento de todos os homens, pela promoção da paz e por uma repartição mais justa das riquezas
- criar comunidade no meio em que vivemos, continuando abertos e ecumênicos, respeitando cada cultura em sua diversidade
- seguindo as pegadas do Irmão Carlos, viver plenamente do amor de Jesus, aprofundando sua mensagem, reservando tempo para a oração, partilhando a Eucaristia e vivendo encontros fraternais.
( Legenda da foto: da esquerda para direita:Irmãozinho Michel LeClair do Egito, Henry Roberti da Bélgica,Peter Mbuchi do Quênia, Miong-sun da Coréia, Gertrude Mbuchi do Quênia,Antoinette Roberti da Bélgica,Gislene do Brasil,Roberto do Brasil,Irmãozinho Pierre Avril da Coréia e Padre Jean Pierre Dupont da Bélgica )
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
Os 50 anos das Irmãzinhas de Jesus junto ao povo da Tapirapé
Relato dos Irmãozinhos de Jesus( Santiago-Chile)
Relato dos Irmãozinhos de Jesus (Benito – Santiago-Chile)
A Fraternidade existe em Santiago desde 1951, fruto de um convite de Santo Alberto Hurtado ao Pe Voillaume. Está situada no norte da cidade, no distrito de Renca. Os três irmãozinhos (Benito, Noel e Elias, que a compõem desde o princípio trabalharam na construção civil. Hoje, os três estão aposentados e, além disso, estão acolhendo ao irmãozinho “peregrino”, Enrique (Henry Bourceret), atualmente muito debilitado de saúde.
“Cada dia, nossa fraternidade busca seu rosto e o forja e o vive de forma inovadora; hoje, todavia, mais que há trinta anos, quando iniciamos neste bairro de Santiago. Naquela época, mais do que hoje, tínhamos um certo ”marco” de referências objetivas, dos quais o aspecto mais comum vinha do nosso trabalho:este tinha e marcava com ritmos nossos dias. Mas, com a idade avançando cada dia, sem pedir permissão, Elias, Noel e eu, tivemos que deixá-lo pouco a pouco, não sem sentir, para nos organizarmos de outra maneira. Quanto a subsistência, felizmente, temos nossa pequena pensão que asseguramos dos nossos anos de trabalho. Isso tem a vantagem de não perdemos nosso meio social, com o qual guardamos vínculos de amizades forjados ao longo dos nossos anos “ativos”.
Mas, em meio desta transformação progressiva que nos impõe os anos acumulados, temos que voltar a criar cada dia o equilíbrio de nossas vidas, nossa doação a Deus, a causa d’Ele, nossa doação aos homens e mulheres. É mais delicado e temos que inventá-lo a cada dia. O Senhor também está vivo e presente, nos traz cada dia sinais aos quais temos de estar atentos. E assim, o sinal maior quem nos deu foi Enrique (Henry). Ao longo de seus anos de “peregrino”, várias vezes o acolhemos, com alegria, aqui no Chile, principalmente nos anos 80. Nesta época, uma vez caiu enfermo, enfermidade profissional de peregrino, já que se tratava de uma dor nos pés, mas se curou e voltou a partir. No início dos anos 90, se encontrava no Paraguai e uma sobrinha, que admira muito seu estilo de vida,tomou a decisão de acompanhá-lo na etapa de sua “aposentadoria” que já se aproximava.Um conjunto de circunstâncias levaram que se escolhesse o Chile para esta nova etapa de vida.E assim, desde 95, Enrique (Henry) e Helena (sua sobrinha) integraram nossa fraternidade. Mais do que ninguém, Elias e Noel, assumiram esta acolhida. Eu, nessa época, estava no Peru, onde em fevereiro de 98 tive uma hemorragia cerebral que me deixou com uma hemiplegia e, depois de vários meses de reeducação, volto pra cá em fevereiro de 99.
Desde então, Enrique e Helena fazem parte da fraternidade. Mas, Enrique se vê afetado da “maior pobreza” cada dia mais: está perdendo a memória e vive em seu universo próprio, bastante distante do universo das pessoas que o rodeia. Essa situação nos levou a organizar nossas forças, no sentido mais profundo da palavra: trata-se não só de organizar nossas disponibilidades para acompanhá-lo, dado que não pode ficar só em nenhum momento, como também de aprender a decifrar os sinais que nos dá o Senhor.
Qualquer um que olha a Enrique, logo se dá conta de sua necessidade de vários cuidados e atenções. Mas, se com isso, ficamos hipnotizados por estas necessidades e desenvolvemos uma atitude assistencialista, corremos o risco de deixar de lado o principal, acentuando sua dependência do outro, sem ajudá-lo a assumir-se, como vivemos normalmente. É um longo e difícil aprendizado para tentar encontrar qual a melhor maneira de ajudar ao outro a ser uma pessoa tão responsável, mesmo quando os recursos pessoais vão se declinando. Nossos próprios limites aparecem constantemente. Neste conjunto de questionamento, misturado às exigências constantes de atenção às verdadeiras necessidades de Enrique, sem possibilidade de um verdadeiro diálogo com ele, que faz com que seu acompanhamento seja esgotante para quem quer que seja; ainda assim, nos faz refletir a cada dia mais sobre a verdadeira dignidade da pessoa. Além de Helena, são principalmente, Noel e Elias quem assumem esta tarefa, central na caminhada de nossa fraternidade.
Este acompanhamento, como já dizia central em nossa Fraternidade é, no entanto, por suas exigências, muito exaustivo para qualquer um e finalmente para todos, assim como Helena também o sente. Isso a levou a buscar uma casa de repouso, onde acaba de conseguir por estes dias. Tanto ela como Enrique chegaram a convencer-se que tal solução podia ser mais oportuna e segura para os dois.
Por agora, Enrique parece acomodar-se bem a sua nova casa e o pessoal desta casa parece não desanimar-se pelo estado de enfermidade de Enrique. Felizmente, sua irascibilidade se expressa em maior parte em francês, o que tem certas vantagens. Esperamos que isso possa estabilizar-se com o tempo.Tanto Helena, como nós, mantemos contatos com Enrique, seja visitando em sua casa de repouso, seja convidando a vir a fraternidade com certa regularidade para partilhar algum almoço e um tempo com ele. Fica para nós o desafio de construir as modalidades concretas desta situação, que sejam viáveis para todos.
Finalmente nossa fraternidade, ainda vivendo a evolução de seus problemas próprios, busca também não perder sua razão de está presente aqui neste bairro, vivendo com e para a gente que nos rodeia, ficando atento aos seus problemas. Aqui encontramos outro sinal do Senhor: Depois de várias visitas, para nos conhecer um pouco, durante as vésperas de Pentecostes de 2005, nos tocou acolher em nosso meio, Rodolfo Botto, um jovem (33) de Quilpué, ao lado de Valparaíso, que tem esse desejo raro de consagra-se ao Senhor caminhando como pobre entre os pobres, com a ajuda da Fraternidade, no exemplo de Jesus de Nazaré.Viveu conosco pouco mais de dois anos, até agosto de 2007, trabalhando humildemente, segundo seu próprio desejo, em um asilo de idosos, como membro do serviço de manutenção. Mas, além dos serviços práticos que tem que assegurar, tantas salas ou espaços que tem que limpar ou organizar, etc., ou através destes serviços, logo esteve sensibilizado que seu serviço tinha que manter um ambiente humano onde cada idoso merece ser respeitado e, mais ainda, sentir-se amado e por isso,profundamente respeitado. Depois de experimentar ao longo destes dois anos, como em tal caminho poderia realizar efetivamente sua doação ao Senhor, foi fazer um tempo de noviciado com outros irmãos, na Bolívia, onde está atualmente muito feliz.
Aqui, sentimos com força como o nosso país está triste, padecendo fortemente da ausência de razões para viver, o que vem sendo feito elimina-se o valor da pessoa humana por si mesma. A única coisa que tem importância e valor é a rentabilidade econômica: esta tem sua importância, mas, ao constituir-se como única razão de viver, tira da vida humana a alegria, os sonhos e projetos, vistos e calculados unicamente segundo sua rentabilidade econômica. A vida das pessoas torna-se um tanto entediada. Uma vez mais estamos convidados a olhar a pessoa humana tal como Deus a olha, capaz de iniciativa, de amor e de aventura; e a testemunhá-lo em nosso cotidiano que não é especialmente marcado pela rentabilidade econômica.Nesta hora difícil do pais, temos que guardar a esperança que um dia novo se aproxima: é para o parto deste dia novo que temos que trabalhar: é um trabalho de sexta-feira santa. Não somos os donos do resultado, só sabemos, com certeza, que ele virá. Que o Espírito do Senhor lhes encha de uma esperança alegre e inquebrantável.
(Irmãozinho Benito)
(Extraído da Revista “Boletín Semestral de los Hermanos de Jesus”- I Semestre/2008-Número -5)
Um belo artigo extraído da Revista "Mundo e Missão" sobrre Charles de Foucauld..Boa leitura e muita inspiração nos caminhos de "Nazaré"....
Entre Deus e os pobres
por Costanzo Donegana
O dia 1 de dezembro de 1916, Charles de Foucauld é morto por um tiro de carabina nas têmporas por um jovem tuaregue. Havia escrito alguns anos antes: "Pensa que deves morrer mártir, despojado de tudo, estendido no chão, nu, irreconhecível, coberto de sangue e de feridas, morto com violência e dolorosamente". Foram seus "amigos" tuaregues que o mataram: por eles, Foucauld havia dado toda sua vida, tornando-se seu servidor.
Esse altivo povo nômade do Saara tinha-se tornado o "dono" da vida do irmão Charles: na sua pequena casa de um só quarto, eles entravam e saíam com a máxima liberdade e indiscrição. Era o amigo que podiam ir visitar a qualquer hora do dia e da noite. Haviam notado que, quando chamavam o padre, ele ia logo, sem fazê-los esperar. Ele tinha-se tornado realmente um homem "comido". Para ele não era só questão de praticar a hospitalidade, de prestar serviço ou de tratar um doente, expressões externas e, todavia, bem reais de seu amor: o dom de si mesmo, que ele fazia aos seus tuaregues, ia mais além.
Procurava penetrar nos segredos de sua língua, de suas tradições, dos costumes que são como o reflexo da alma de um povo. Passava a maior parte de seu tempo compondo uma gramática e um dicionário tamascec, recolhendo provérbios e poesias populares, não poupando nem tempo nem conversas. Até hoje, os habitantes do Hoggar (sul da Argélia) lembram que o "marabuto branco" falava sua língua melhor do que eles. Irmão Charles, de vez em quando, era oprimido por esta obra lingüística, sobretudo porque lhe impedia de dedicar-se ao trabalho manual, que ele considerava como a própria forma de sua vida de pobreza; todavia não duvidava que era seu primeiro dever. Para ele, era a maneira melhor para penetrar a alma dos indígenas, além de preparar os instrumentos de trabalho para os futuros missionários.
Gritar o Evangelho com a vida
A atração do deserto manifestou-se espontaneamente em Charles de Foucauld já antes da conversão, na medida em que sua alma se aproximava de Deus. Esta atração desenvolveu-se depois, seja pelo desejo de imitar Jesus, como para responder a uma necessidade de viver só com Deus, que se tornava nele sempre mais forte. Porém, não sentiu o chamado a retirar-se definitivamente no deserto, longe das relações humanas: esta opção não era motivada por um desejo de fugir dos homens.
Capela do eremitério de Foucauld
Todas as vezes que ele penetrava mais na imensidade do Saara, era para tomar contato com populações abandonadas. Umas vezes, o Irmão Charles procurava o contato com os homens, outras entrava pelo deserto adentro como em um lugar de encontro com seu Deus na contemplação. "Meu Senhor Jesus, como será pobre quem, amando-vos de todo coração, não poderá tolerar ser mais rico que seu Bem-amado! [...] Meu Senhor Jesus, como será pobre quem aliviará todas as misérias a seu alcance, pensando que tudo que se faz a um desses pequenos é feito a vós, e tudo que não se faz é negado a vós!".
Um dos ideais mais marcantes da espiritualidade de Charles de Foucauld é a pobreza, como elemento fundamental no seguimento de Jesus e como identificação, por amor, com os pobres: "ser da classe dos pobres, tratados e considerados como tais pelo mundo" (R. Voillaume). No deserto, ele encontrou o lugar do despojamento físico e espiritual, onde Deus o chamava à maior intimidade com ele e a experimentar a falta de tudo como maneira de compartilhar as situações de pobreza, insegurança, humilhação dos últimos da humanidade.
A pobreza, nesta luz, não era um fim, e sim um meio para sua identificação com seu Bem-amado, o centro e a paixão de todo seu ser: "Continuar em mim a vida de Jesus: pensar seus pensamentos, dizer suas palavras, fazer suas ações [...] que seja ele a viver em mim. Ser a imagem de Nosso Senhor na sua vida escondida: gritar, com minha vida, o Evangelho sobre os telhados. Vem: é preciso que a coragem iguale a vontade [...] É hora de amar a Deus. Procurar a Deus só". (Este texto deve muito a R.VOILLAUME, Au coeur des masses, Paris, Du Cerf 1969.)
(A Fraternidade existe em Santiago desde 1951, fruto de um convite de Santo Alberto Hurtado ao Padre Voillaume. Está situada no norte da cidade, no distrito de Renca. Os três irmãozinhos ( Benito, Noel e Elias, que a compõem desde o princípio trabalharam na construção civil.Hoje, os três estão aposentados e além disso, estão acolhendo ao irmãozinho “peregrino”, Enrique ( Henry), atualmente muito debilitado de saúde.)
“Cada dia, nossa fraternidade busca seu rosto e o forja e o vive de forma inovadora; hoje, todavia, mais que há trinta anos, quando iniciamos neste bairro de Santiago.Naquela época, mais do que hoje, tínhamos um certo”marco”de referências objetivas, dos quais o aspecto mais comum vinha do nosso trabalho:este tinha e marcava com ritmos nossos dias.Mas, com a idade avançando cada dia, sem pedir permissão,Elias, Noel e eu, tivemos que deixá-lo pouco a pouco, não sem sentir, para nos organizarmos de outra maneira.Quanto a subsistência, felizmente, temos nossa pequena pensão que asseguramos dos nossos anos de trabalho. Isso tem a vantagem de não perdemos nosso meio social, com o qual guardamos vínculos de amizades forjados ao longo dos nossos anos “ativos”.
Mas, em meio desta transformação progressiva que nos impõe os anos acumulados, temos que voltar a criar cada dia o equilíbrio de nossas vidas, nossa doação a Deus, a causa D’Ele, nossa doação aos homens e mulheres. É mais delicado e temos que inventá-lo a cada dia. O Senhor também está vivo e presente, nos traz cada dia sinais aos quais temos de estar atentos. E assim, o sinal maior quem nos deu foi Enrique (Henry). Ao longo de seus anos de “peregrino”, várias vezes o acolhemos, com alegria, aqui no Chile, principalmente nos anos 80. Nesta época, uma vez caiu enfermo, enfermidade profissional de peregrino, já que se tratava de uma dor nos pés, mas se curou e voltou a partir. No início dos anos 90, se encontrava no Paraguai e uma sobrinha, que admira muito seu estilo de vida,tomou a decisão de acompanhá-lo na etapa de sua “aposentadoria” que já se aproximava.Um conjunto de circunstâncias levaram que se escolhesse o Chile para esta nova etapa de vida.E assim, desde 95, Enrique( Henry) e Helena( sua sobrinha) integraram nossa fraternidade.Mais do que ninguém, Elias e Noel, assumiram esta acolhida. Eu, nessa época, estava no Peru, onde em fevereiro de 98 tive uma hemorragia cerebral que me deixou com uma hemiplegia e, depois de vários meses de reeducação, volto pra cá em fevereiro de 99.
Desde então, Enrique e Helena fazem parte da fraternidade. Mas, Enrique se vê afetado da “maior pobreza” cada dia mais: está perdendo a memória e vive em seu universo próprio, bastante distante do universo das pessoas que o rodeia. Essa situação nos levou a organizar nossas forças, no sentido mais profundo da palavra: trata-se não só de organizar nossas disponibilidades para acompanhá-lo, dado que não pode ficar só em nenhum momento, como também de aprender a decifrar os sinais que nos dá o Senhor.
Qualquer um que olha a Enrique, logo se dá conta de sua necessidade de vários cuidados e atenções. Mas, se com isso, ficamos hipnotizados por estas necessidades e desenvolvemos uma atitude assistencialista, corremos o risco de deixar de lado o principal, acentuando sua dependência do outro, sem ajudá-lo a assumir-se, como vivemos normalmente. É um longo e difícil aprendizado para tentar encontrar qual a melhor maneira de ajudar ao outro a ser uma pessoa tão responsável, mesmo quando os recursos pessoais vão se declinando.Nossos próprios limites aparecem constantemente. Neste conjunto de questionamento, misturado às exigências constantes de atenção às verdadeiras necessidades de Enrique, sem possibilidade de um verdadeiro diálogo com ele, que faz com que seu acompanhamento seja esgotante para quem quer que seja; ainda assim, nos faz refletir a cada dia mais sobre a verdadeira dignidade da pessoa. Além de Helena, são principalmente, Noel e Elias quem assumem esta tarefa, central na caminhada de nossa fraternidade.
Este acompanhamento, como já dizia central em nossa Fraternidade é, no entanto, por suas exigências, muito exaustivo para qualquer um e finalmente para todos, assim como Helena também o sente. Isso a levou a buscar uma casa de repouso, onde acaba de conseguir por estes dias. Tanto ela como Enrique chegaram a convencer-se que tal solução podia ser mais oportuna e segura para os dois.
Por agora, Enrique parece acomodar-se bem a sua nova casa e o pessoal desta casa parece não desanimar-se pelo estado de enfermidade de Enrique. Felizmente, sua irascibilidade se expressa em maior parte em francês, o que tem certas vantagens. Esperamos que isso possa estabilizar-se com o tempo.Tanto Helena, como nós, mantemos contatos com Enrique, seja visitando em sua casa de repouso, seja convidando a vir a fraternidade com certa regularidade para partilhar algum almoço e um tempo com ele. Fica para nós o desafio de construir as modalidades concretas desta situação, que sejam viáveis para todos.
Finalmente nossa fraternidade, ainda vivendo a evolução de seus problemas próprios, busca também não perder sua razão de está presente aqui neste bairro, vivendo com e para a gente que nos rodeia, ficando atento aos seus problemas. Aqui encontramos outro sinal do Senhor: Depois de várias visitas, para nos conhecer um pouco, durante as vésperas de Pentecostes de 2005, nos tocou acolher em nosso meio, Rodolfo Botto, um jovem (33) de Quilpué, ao lado de Valparaíso, que tem esse desejo raro de consagra-se ao Senhor caminhando como pobre entre os pobres, com a ajuda da Fraternidade, no exemplo de Jesus de Nazaré.Viveu conosco pouco mais de dois anos, até agosto de 2007, trabalhando humildemente, segundo seu próprio desejo, em um asilo de idosos, como membro do serviço de manutenção. Mas, além dos serviços práticos que tem que assegurar, tantas salas ou espaços que tem que limpar ou organizar,etc, ou através destes serviços, logo esteve sensibilizado que seu serviço tinha que manter um ambiente humano onde cada idoso merece ser respeitado e, mais ainda, sentir-se amado e por isso,profundamente respeitado. Depois de experimentar ao longo destes dois anos, como em tal caminho poderia realizar efetivamente sua doação ao Senhor, foi fazer um tempo de noviciado com outros irmãos, na Bolívia, onde está atualmente muito feliz.
Aqui, sentimos com força como o nosso país está triste, padecendo fortemente da ausência de razões para viver, o que vem sendo feito elimina-se o valor da pessoa humana por si mesma. A única coisa que tem importância e valor é a rentabilidade econômica: esta tem sua importância,mas, ao constituir-se como única razão de viver, tira da vida humana a alegria, os sonhos e projetos, vistos e calculados unicamente segundo sua rentabilidade econômica. A vida das pessoas torna-se um tanto entediada. Uma vez mais estamos convidados a olhar a pessoa humana tal como Deus a olha, capaz de iniciativa, de amor e de aventura; e a testemunhá-lo em nosso cotidiano que não é especialmente marcado pela rentabilidade econômica.Nesta hora difícil do pais, temos que guardar a esperança que um dia novo se aproxima: é para o parto deste dia novo que temos que trabalhar: é um trabalho de sexta-feira santa. Não somos os donos do resultado, só sabemos, com certeza, que ele virá. Que o Espírito do Senhor lhes encha de uma esperança alegre e inquebrantável.
(Irmãozinho Benito)
(Tirado Revista “Boletín Semestral de los Hermanos de Jesus”- I Semestre/2008-Número -5)